Foi quando eu me mudei para cá.
Eu e minha amiga queríamos falar com a vizinha. Mas demos a maior sorte, pois quem abriu a porta foi o filho dela! Lindo (mesmo com uma espinha em cada bochecha), loiro de olhos verdes. Me apaixonei à primeira vista, então começou a missão "conquistar o filho da vizinha". Mas aos onze anos eu nem tinha ideia como deveria fazer isso para funcionar, portanto fiz tudo ao contrário.
Deixava a janela do meu quarto bem aberta, que dava de frente para a janela do quarto dele, e ouvia Felipe Dylon no volume máximo. De preferência colocava o CD todo, porque para mim, pareciam que aquelas músicas eram feitas pra nós.
Ficava vigiando ele, na janela mexendo em alguma coisa no celular, entre as frestas da minha janela antes de dormir. Eu era uma espiã do amor. Acreditava firmemente nisso.
E quando eu passava por ele e os amigos na rua ficava tão nervosa que tropeçava, mas não olhava para eles de jeito nenhum, fugia dele o máximo que eu podia. Eu o amava tanto que passei a ver a foto dele na capa do CD ao invés do F.Dylon!
Louca de paixão!
Até que um dia ele foi jantar na minha casa com a mãe, então minha mãe querida, que já tinha sacado tudo, disse depois do jantar pra irmos pra casa dele pra sei lá o que, ou traduzindo, "vão brincar crianças". Queria me esconder daquela situação entre os tijolos da parede. Foi aí que ele disse:
- Gosta de video game?
- Pode ser... - tooosca.
Fomos pro quarto dele, aí eu comecei a imaginar ele me dando um beijo de cinema, dizendo que ficava de olho em mim toda noite antes de dormir e que sabia que eu também sentia o mesmo por ele e...
- Sabe jogar futebol?
- Eu aperto todos os botões ao mesmo tempo.
- Pode ser...
Ele me deu um dos controles e então ficamos jogando e ele impressionado com meus dribles e coisas difíceis que eu estava conseguindo fazer por estar apertando todos os botões ao mesmo tempo. Aí comecei a ficar mais calma e até falamos sobre o hamster dele.
Nossas mães vieram e a minha mandou eu ir pra casa. Fui com um aperto no coração.
Nunca mais nos falamos, até a festa de um amigo nosso em comum, anos depois. Ele mandou me chamar e perguntou se eu era aquela vizinha dele e eu disse sim...
Agora já era tarde, não o amava mais, nem ouvia Felipe Dylon.