Já faz umas três horas e meia que tu passou
por aquela porta, decidida a nunca mais voltar.
A gente sabe que tu já foi embora algumas
vezes, dizendo (berrando) memoráveis desaforos na minha cara. Mas a gente
também sabe que dessa vez foi sério, porque dessa vez tu levou o aquário e a
ração do peixe, dessa vez não teve choro, dessa vez tu não deixou nem o shampoo
reserva do banheiro, dessa vez tu não disse nada, dessa vez já faz mais de três
horas e tu ainda não voltou.
Tu não vai voltar e eu não saí ainda do chão do
hall de entrada, porque eu tô tentando assimilar a ideia de que tu tá em outra
vibe. Te invejo por saber exatamente o que quer, enquanto eu não sei nem de
qual cerveja eu gosto.
Eu sabia que a gente ia bifurcar, eu sabia.
Tu pensava, tu olhava pra dentro de ti, tu analisava, tentava evoluir. E eu
sempre de pijama no sofá, assistindo tv.
Talvez tu tenha razão quando dizia que eu não
aguentava o peso de uma vida real, por isso me refugiava na ilusão dos meus
filmes e séries. Só que eu acabei de me deparar com a pior realidade do mundo,
que é seguir uma vida sem ti por perto. E eu não vou te pedir pra voltar.
Quando eu falar contigo de novo, em algum pub que a gente se pechar, eu só vou
te agradecer, por me ensinar um possível caminho pra melhorar, mesmo eu não
optando a andar por ele.
Vou levantar daqui, voltar pro sofá e dar o
play nas minhas “fantasias”. Porque mais do que nunca, tá doendo colocar os pés
no chão.