Manhã de
inverno aquecida pelo sol. O ano é 1998 . Eles não ainda não se conheciam.
Marina queria muito ligar para a amiga Estefani para contar que Caio terminou com ela pela oitava vez só naquele inverno, mas não anotou em lugar algum seu novo número de telefone e a ligação
não poderia esperar mais. Colocou os dedos indicadores nas têmporas e visualizou a boca de Estefani narrando a sequência: 6...7...6...5...4...9...0...ou 3...5. Mesmo incerta, resolveu arriscar aquela combinação.
Chamou. "Tu, tu,
tu...".
Marina estava ligando, erroneamente, para Pedro, que estava
mergulhado em um sonho bom, o que o fez demorar demais para atender. Então ela desiste de falar com Estefani por telefone, coloca o aparelho no gancho, e decide ir até a casa da amiga. Enquanto isso, Pedro finalmente tira o aparelho do gancho: "Alô? Alô?". A ligação havia caído: "tutututututu....". Indignado por ter sido acordado para nada, volta para debaixo das cobertas. Marina nunca descobriu que ligou para Pedro, nem ele soube quem estava do outro lado da linha daquela ligação.
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Menos uma.
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Tarde de um dia frio de outono. O ano é 2006 . Eles não ainda não se conheciam.
Chateada por ter se desentendido, novamente, com Caio, Marina decidiu entrar no Café Bouli para tomar um Vanilla e tentar animar, mesmo que um pouco, o seu dia. Porém assim que seu pé esquerdo atravessou a porta de entrada, Pedro saiu rindo com uma amiga. Marina olhava para o chão no momento em que cruzou com eles, mas instantaneamente é despertada de seus devaneios ao sentir aquele perfume masculino. Ela se segurou no balcão próximo à porta para não bambear. Marina se virou, olhou para o casal que seguia animadamente pela rua e pensou: "Como era mesmo o rosto
daquele rapaz? Infelizmente não deu tempo de ver...". Riu sozinha do pensamento inadequado que teve com um
desconhecido e que, ainda por cima, estava acompanhado. Sentou na mesa do canto esquerdo da cafeteria e, já mais animada, resolve pedir um pedaço de torta também, para acompanhar o café.
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Menos duas.
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Hora do almoço de um dia chuvoso de verão. O ano é 2010 . Eles não ainda não se conheciam.
Com pressa, Pedro sai do trabalho para comprar um anel de noivado para a
namorada, Joice, na joalheria em que Marina trabalha. Estressado por se entranhar cada vez mais fundo na relação com Joice e, consequentemente, com seus sogros (e patrões), ele nem repara na encantadora vendedora, que o observa com a estranha sensação de o reconhecer de algum outro
lugar. Ela o convence a levar o anel mais caro da loja e o que ela mesma gostaria de ganhar.
Com o dinheiro da comissão do anel vendido, compra um relógio para o namorado, que continua sendo o Caio.
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Menos três.
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Noite silenciosa de primavera. O ano é 2012 . Eles não ainda não se conheciam.
Ao pegar o celular de Joice emprestado, pois o seu estava no conserto, Pedro atendeu a ligação de um tal de Caio:
"Alô?"
"Ué, cadê a Joice?"
"Eu sou o marido dela e estou usando o celular por uns dias, você quer deixar recado?"
"tutututututu......" - desligou.
Desconfiado, ao chegar em casa Pedro brigou com Joice e a ameaçou pedir o divórcio caso ela não contasse a verdade sobre Caio. Desesperada ela confessou que mantinha encontros esporádicos com ele há dois anos e que ele não sabia que ela era casada, mas que ela sabia que ele era com uma moça chamada Marina, que trabalhava numa joalheria no centro da cidade. Desnorteado
com a infidelidade, Pedro saiu dirigindo o carro. Irritado com tudo o que estava acontecendo, ele não prestou atenção no trânsito, resultando
num acidente fatal. Bateu no carro de um casal. Pedro e o homem do outro carro, morreram na hora, mas Marina sobreviveu.
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Menos quatro.
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Na
próxima vida começa de novo.
O universo é insistente, o amor incansável.