Começou aos poucos... De início, ele a irritava muito durante as aulas de teatro, só pelo fato de existir. Não conversavam, nem tinham amigos em comum. Mas ela sabia só de olhar para a cara dele que eram incompatíveis. Até terem que improvisar uma cena... Ele já começou a rir, pela cara que ela estava fazendo por terem de estar juntos, então ela o encarou e disse a sua frase preferida de Romeu e Julieta:
- "Só ri de uma cicatriz quem nunca foi ferido." - e deu um sorriso, pois sabia que tinha calado sua boca e que ele nem fazia ideia do ela estava falando.
- "É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada." - disse ele com dor no olhar, mais uma frase da peça de Shakespeare. Então pegou sua mão e a beijou delicadamente, puxando-a para si abraçando-a e respirou o cheiro do seu shampoo. Ela ficou paralizada e trancou a respiração, tinha certeza de ele fedia e que era perigoso ter intimidades com aquele rapaz.
Mas não conseguia tirá-lo da cabeça depois daquele dia, passou a observá-lo e ver que ele não era de todo ruim. Trabalhava e tinha os tênis sempre limpos. Imaginou seu mestre Shakespeare falando: "A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõe." E se odiou por perceber que estava perdidamente apaixonada pela última pessoa que ela alimentaria algum sentimento que não fosse ódio.
Dois meses depois, um trecho da carta de Julieta para seu ex-amado:
"Romeu, eu nunca te beijei, mal senti tua pele na minha. Mas agora, tu simplesmente vai embora e me deixa sozinha com um elogio sobre meus peitos bem feitos.
O que eu tenho a dizer: Muito obrigada.
Por ter me aberto os olhos para a verdade, nunca iríamos ser felizes juntos, nem às escondidas. De tanto ódio que derramei sobre ti, tu deixaste de me amar. Mas te digo com todo meu coração, querido: o amor mal correspondido tem mesmo um gosto de ódio.
Seja feliz, até outra vida."